RECURSOS HUMANOS
SISTEMA DE RECURSOS HUMANOS NO JAPÃO
O JAPÃOPara entender-se o modelo de Recursos Humanos do Japão é fundamental o conhecimento anterior deste país e de seus hábitos, sua economia, sua educação e outras características, pois como será visto adiante, o modelo de Recursos Humanos é extremamente influenciado pela identidade nacional que existe de forma peculiar no Japão.
O arquipélago japonês é composto de 4 ilhas principais e sua área é aproximadamente 23 vezes menor do que a área do Brasil (aproximadamente do tamanho do estado de São Paulo).
A população do Japão está muito concentrada em algumas regiões do país, sendo que 45% da população do país encontra-se em 3 localidades: área metropolitana de Tóquio, área de Nagoya e área de Osaka.
O Japão tem aproximadamente a mesma população do Brasil (um pouco mais), sendo que sua densidade populacional média é muito alta. Acrescente-se a isso que a maior parte do território japonês é inaproveitável do ponto de vista urbanístico, sendo a topografia extremamente montanhosa (existem no Japão mais de 500 montanhas com mais de 2.000 metros de altura). Isso faz com que a concentração de pessoas neste país não apresente paralelo no mundo.
Em termos de média, o Japão só perde para a Holanda e para a Bélgica em densidade populacional.
O Japão é um país que viveu longos períodos de isolamento. Houve por volta do século VI e VII uma influência muito forte da China, novo período de alguns séculos de isolamento e praticamente o Japão voltou a se abrir para o mundo em 1868, durante a revolução Meiji. A partir desta época começa o processo mais rápido de industrialização e desenvolvimento.
A economia japonesa é capitalista e extremamente bem sucedida. Na década de 60 o crescimento médio do Japão foi a ordem de 10% ao ano. A crise do petróleo trouxe no ano de 75 um crescimento negativo no Japão, mas já a partir de 76 esse crescimento passou a ser da ordem de 6% ao ano.
No Japão a porcentagem de pessoas empregadas no setor terciário está aumentando, o setor secundário tendo um aumento mais discreto e grande redução no setor primário.
Nas comparações internacionais, hoje no Japão cerca de 54% das pessoas trabalham no setor terciário. Isto dá uma ascensão do setor terciário, que traz reflexos nos sindicatos, que gradativamente se deslocam da fábrica para o escritório.
O processo educacional japonês é bastante antigo. No final do século XIX, apenas 10% da população tinha educação básica. Dez anos depois, em 1903 o Japão já tinha de 90 a 100% da sua população com ensino básico. É interessante verificar que muitos países ocidentais, o desenvolvimento do processo educacional acontece depois da revolução industrial. No Japão, o processo de educação antecedeu o processo de industrialização.
População economicamente ativa è 118 milhões
A maior parte desse desenvolvimento após a crise do petróleo se dá devido a exportação.
O Japão é um país altamente de importação (praticamente todo petróleo, minério de ferro, bauxita, carvão, produtos agrícolas são importados) e uma grande parte do volume de negócios depende de exportação. O sistema educacional prevê 9 anos de ensino compulsório, com 100% de atendimento. Três anos adicionais, equivalente ao nosso 2º grau, tem uma porcentagem de atendimento de 94%.
O nível universitário o atendimento é de 40% (na Europa este número é de mais ou menos 15 a 20%).
O SISTEMA DE RECURSOS HUMANOS
O sistema de RH no Japão se baseia em 3 aspectos básicos:
Emprego vitalício
A característica mais importante da organização japonesa é o emprego para vida toda. É um pacto entre a empresa e o empregado: "qualquer coisa que aconteça eu não te despeço".
Basicamente esta é a filosofia do emprego vitalício.
Emprego vitalício x lealdade
Se perguntarmos ao profissional brasileiro: "o que você faz ?" certamente a resposta será: "eu sou engenheiro ... eu sou vendedor ... eu sou recepcionista ... etc.
Se fizermos a mesma pergunta a um japonês, provavelmente ouviremos: "sou funcionário da Hitachi ... da Sony ... etc.
Por esta resposta existe uma diferença básica de lealdade, que no ocidental tende a ser centrada em uma profissão, isto é, ele procura um conjunto de empresas em que ele possa realizar a sua profissão, a sua especialidade.
No Japão a lealdade existe centrada em uma empresa, e é dentro desta empresa que ele vai exercer um conjunto de cargos, das mais variadas naturezas.
Remuneração por antigüidade
É um processo bastante parecido com o utilizado no setor de engenharia ou seja, a "curva da maturidade".
Sindicato por empresa
Nos países ocidentais o sindicato é estruturado por categoria profissional ou categoria econômica. No Japão existe um sindicato para cada empresa.
Comparativamente, tem-se:
SOCIEDADE OCIDENTAL (BRASIL) |
SOCIEDADE JAPONESA |
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Existem aproximadamente 70 mil sindicatos no Japão. A estrutura sindical é composta de unidade básica que é o sindicato por empresa, que conduz o processo de negociação coletiva com a gerência da empresa. Existem unidades a nível de federação, geralmente agrupamentos por indústrias, existem os centros nacionais Sohyo, Domei, Shinsanbatsu, Churitsuroren.
Esses centros nacionais congregam os diversos tipos de sindicato e se diferenciam pela orientação ideológica, tendo como papel central a coordenação e obtenção de diretrizes para discussão.
O processo de comunicação entre empresa e sindicato, funciona conforme a ilustração abaixo:
nota: participação dos trabalhadores a nível de fábrica.
Como ilustração, estes são os assuntos tratados nas juntas de consultas:
Assuntos ligados à política gerencial global e a direção da empresa:
Assuntos ligados à administração de recursos humanos:
Assuntos ligados à condições de trabalho:
Outros assuntos:
Como é o gerente de RH no Japão ?
É selecionado um homem da linha de produção e durante um certo período da sua vida profissional, ele será o gerente de RH. Para isso recebe durante um determinado período de tempo intenso treinamento e ele assume aquela função. Isto aplicado a nível de empresa, gera uma massa de pessoas habilitadas, com reflexos na flexibilidade que a empresa necessita.
O sistema de emprego vitalício abrange fundamentalmente as empresas de maior porte. Sendo que 35% dos trabalhadores estão dentro desse sistema. Existe um "contrato psicológico" entre o empregador e o empregado quanto a não dispensa, que é uma prática e não uma exigência com base legal.
Resultados:
Do lado do empregador isto gera maior produtividade, maior flexibilidade para mudanças e exige também grandes investimentos em treinamento.
Produtividade
No Japão, os fatores que levam a produtividade e sua posterior divisão teórica são:
A empresa japonesa oferece aos seus trabalhadores:
Isso gera a alta produtividade, e conseqüentemente:
Um dos conceitos de produtividade, que explica a atitude do trabalhador da empresa japonesa, foi formulado na Europen Productivity Center em 1959, e merece a nossa reflexão por sua profundidade e implicações.
Acima de tudo, a produtividade é uma atitude mental. É uma mentalidade de progresso, de constante melhoria do que existe. É a certeza de ser capaz de fazer hoje melhor do que ontem, assim como amanhã melhor do que hoje. É a vontade de melhorar a situação atual, não importa quão boa ela possa parecer, não importa o quão boa ela realmente possa ser. É a constante adaptação da vida econômica e social às condições de mudança: é o contínuo esforço de aplicar novas técnicas e novos métodos; é a fé no progresso humano.
Planejamento de Recursos Humanos
Caracterização da mão-de-obra:
Estratégias do crescimento econômico:
Renda per capita:
nota: entre 1973/1979 => cresce mais de 150%; entre 1979/1980 => cresce 20%, apesar da agudez da crise econômica mundial.
Esse crescimento reside em 4 estratégicas:
Produtividade - Desafio permanente
As explicações do crescimento da produtividade japonesa residem basicamente em 3 forças de apoio:
1º) Governo:
O estado japonês propõe e impulsiona o modelo industrial. Desde 1950 o crescimento econômico é objetivo prioritário e se fundamenta nos padrões da produtividade, na qualidade dos produtos e na busca de mercados.
2º) Coexistência empresários/trabalhadores:
Desde 1955 vigora o pacto dos empresários com os trabalhadores apoiado nos seguintes princípios do Centro de Produtividade do Japão:
3º) Sistema social:
Caracterizado por profundo senso de dever, de lealdade, de respeito, que permeia a vida cotidiana quanto ao trabalho, família hierarquia, lazer, etc.
Os principais traços da sociedade japonesa são:
Convivência com robotização
No Japão há aproximadamente 150 fabricantes de robôs e a tecnologia mecânica está cedendo seu espaço para a eletrônica. Com isso estão ocorrendo significativas alterações na tipologia da mão-de-obra.
Existem, hoje, no Japão, pelo menos 70 mil robôs em funcionamento, com algumas empresas, como a Toyota, apresentando linhas totalmente comandadas eletronicamente.
Condução do processo decisório
Com muita freqüência, encontramos articulistas comparando a eficiência e a racionalidade das empresas ocidentais com a lentidão e indecisão do sistema decisório japonês.
As bases do processo japonês estão estreitamente vinculadas às tradições e a cultura oriental.
Em artigo publicado na Revista de Administração de Empresas (RAE), da FGV, dez/80, encontramos 5 aspectos do processo decisório japonês os quais citamos abaixo:
1º) INFORMAÇÕES E SUGESTÕES DE BAIXO PARA CIMA: A política de porta-aberta é praticada livremente em qualquer nível, com salas comuns para executivos de áreas diferentes.
2º) CONCILIAÇÃO: As decisões dos executivos não são isolados, nem impostas. Feita a conciliação entre as partes, as propostas seguem para os outros escalões, até o topo.
3º) COORDENAÇÃO: A qualificação mais importante das chefias é a tolerância e a compreensão, com a tarefa voltada para a coordenação entre chefes e encarregados de todas as unidades afins, interagindo no mesmo grau de igualdade.
4º) CONSENSO: Não significa unanimidade, mas consentimento e apoio à melhor medida à ser implantada. Essa prática tem a vantagem de facilitar e apoiar as alterações propostas.
5º) PATERNALISMO: O empregado é tratado como um todo, cercado de planos de benefícios, tendo condições favoráveis para se desenvolver na organização, incorporando-se nela até a sua aposentadoria.
6º) VALORIZANDO A ADMINISTRAÇÃO: O sucesso das empresas do Japão não reside apenas na sua postura diante da produtividade e da qualidade. Alguns autores, principalmente William Ouchi, da "Teoria Z" ou "como enfrentar o desafio japonês" destacam as atividades desenvolvidas pela administração do sistema de relações trabalhistas e na condução de qualquer negócio.
Citaremos abaixo, os principais fatores nos quais a administração se apoia e contribui para o crescimento empresarial japonês:
1º) CLIMA DE CONFIANÇA: Produtividade e confiança estão interligadas. As técnicas administrativas enfatizam a confiança nas pessoas, indispensável para que trabalhem juntas, eficazmente. Não pode haver coordenação e cooperação sem confiança.
2º) COMPREENSÃO E APOIO: O comportamento humano é complexo e imprevisível, não podendo ser norteado por mecanismos burocráticos inflexíveis, rigidamente impostos. O clima compreensivo e apoiador é indispensável no relacionamento cotidiano e nisso os japoneses são mestres.
3º) PARTICIPAÇÃO: Para as empresas japonesas, a administração se fundamenta no modelo participativo, favorecendo a criatividade, a motivação, a rapidez de mudança, etc.
4º) FUNÇÕES ROTATIVAS: Os executivos e trabalhadores trocam de cargos, favorecendo o crescimento, a continuidade em épocas de crise, a disponibilidade de trabalhadores treinados.
5º) SISTEMA DE INTEGRAÇÃO: O novo empregado é tratado como membro novo da família, e a cobertura familiar é estendida à família do novo membro. O processo conclui com a participação do diretor da empresa dos empregados e seus pais, num ritual em que a lealdade do trabalhador e a garantia do emprego pela organização se consolidam efetivamente.
6º) DISCIPLINA: "Nós temos a disciplina ! Essa é a nossa grande arma". A estrutura flexível e o clima de confiança não anulam o exercício da disciplina que caracteriza todas as dimensões da vida japonesa.
7º) RITMO INTEGRADO: "Em nossas empresas não temos os empurrões de fim de expediente, nem o corre-corre infindável das tardes de sexta-feira". Planejamento, produção, vendas e suprimentos operam em ritmo cadenciado, como orquestra sem maestro.
As lições para nossa realidade:
O estilo japonês vem sendo pesquisado em diversos países e pelas diversas áreas das organizações. Esse interesse vem crescendo nos últimos anos, conforme atestam matérias jornalísticas publicadas com muita freqüência ou seminários promovidos a respeito do Japão. No nosso caso, nos referimos às relações trabalhistas, às práticas de pessoal, procedimentos e estruturação empresarial voltadas para os recursos humanos.
O que vimos até agora ?
Vantagens:
De acordo com o professor Hideo Ishida, são as seguintes vantagens desse sistema:
Desvantagens:
Ajustamentos no exterior:
Idéias úteis para nossa realidade: